Organismos Transgênicos

Organismos Transgênicos

Transgênicos ou transgénicos são organismos que, mediante técnicas de engenharia genética, contenham material genético de outros organismos. A geração de transgênicos visa um artigo transgénico biológico a obtenção de organismos com características novas ou melhoradas relativamente ao organismo original. Resultados na área de transgenia já são alcançados desde a década de 1970, na qual foi desenvolvida a técnica do DNA recombinante.
A manipulação genética recombina características de um ou mais organismos de uma forma que provavelmente não aconteceria na natureza. Por exemplo, podem ser combinados os DNAs de organismos que não se cruzariam por métodos naturais.
Aplicações
A aplicação mais imediata dos organismos transgênicos (e dos organismos geneticamente modificados em geral) é a sua utilização em investigação científica. A expressão de um determinado gene de um organismo num outro pode facilitar a compreensão da função desse mesmo gene.
No caso das plantas, por exemplo, espécies com um reduzido ciclo de vida podem ser utilizadas como “hospedeiras” para a inserção de um gene de uma planta com um ciclo de vida mais longo. Estas plantas transgênicas poderão depois ser utilizadas para estudar a função do gene de interesse mas num espaço de tempo muito mais curto. Este tipo de abordagem é também usado no caso de animais, sendo a mosca da fruta
Em outros casos, a utilização de transgênicos é uma abordagem para a produção de determinados compostos de interesse comercial, medicinal ou agronómico, por exemplo). O primeiro caso público foi a utilização da bactéria E. coli, que foi modificada de modo a produzir insulina humana em finais da década de 1970. Um exemplo recente, já em 2007, foi o facto de uma equipe de cientistas conseguir desenvolver mosquitos bobucha resistentes ao parasita da malária, através da inserção de um gene que previne a infecção destes insectos pelo parasita portador da doença. Os investigadores esperam começar os testes de campo na África Sub-sariana dentro de aproximadamente 5 anos.
No entanto, os casos mais mediáticos são os das plantas transgênicas, que são modificadas de modo a serem mais resistentes a pragas e doenças, por exemplo, ou a produzir substâncias que lhes permita resistir a insectos, nemátodes ou vírus . A utilização deste tipo de organismos tem desencadeado, no entanto, acesas discussões acerca da sua segurança em termos ambientais e da saúde pública.
Alimentos transgênicos
Alimentos Transgênicos são alimentos cuja semente foi modificada em laboratório. Alguns dos motivos de modificação destas sementes são para que as plantas possam resistir às pragas, insetos e a grandes quantidades de inseticidas. Esses alimentos podem causar riscos ambientais, nomeadamente o aparecimento de ervas daninhas resistentes a herbicidas e a poluição dos terrenos e lençóis de água pelo abuso de agrotóxicos.
Prevalência de culturas geneticamente modificadas
É estimado que a área de cultivo deste tipo de variedades esteja com uma taxa de crescimento de 13% ao ano. A área total plantada é já superior a 100 milhões de hectares, sendo os principais produtores os Estados Unidos, o Canadá, o Brasil, a Argentina, a China e a Índia. Vários países europeus, entre os quais Portugal, a maioria dos países Sul Americanos, vários países africanos e asiáticos e a Austrália têm cultivado também milhões de hectares de culturas transgênicas. As culturas prevalentes são as de milho, soja e algodão, baseadas principalmente na tecnologia Bt
Polêmica
• Atualmente existe um debate bastante intenso relacionado à inserção de alimentos geneticamente modificados (AGM) no mercado. Alguns mercados mundiais, tais como o da Europa e do Japão, rejeitam fortemente a entrada de alimentos com estas características, enquanto que outros, como o Norte e Sul-Americanos e o Asiático (com a excepção japonesa), têm aceito estas variedades agronómicas.
Polinização cruzada
• Uma das preocupações manifestadas em relação à utilização de plantas transgénicas prende-se com a possível polinização cruzada entre estas espécies com as existentes na Natureza ou com culturas não modificadas. Vários estudos têm demonstrado que a existência de polinização cruzada é real, mas que diminui drasticamente com a distância à cultura transgénica. Abud et al. (2007) , num estudo realizado no Brasil, demonstraram que após 10 metros de distanciamento entre plantas de soja transgénica e soja convencional, a polinização cruzada é negligenciável. No caso do milho, Ma et al. (2004) referem que essa distância é de aproximadamente 30 metros. Tais dados levam a que, para a plantação de uma cultura transgénica, tenha que ser respeitada uma determinada distância de segurança em relação às culturas vizinhas. Os investigadores defendem que esta distância deve ser avaliada caso-a-caso devido às diferenças no tamanho, peso e meio de transporte dos diferentes grãos de pólen.
• Uma outra controvérsia relacionada com a polinização cruzada foi a utilização da chamada tecnologia Terminator (em português Exterminador). Esta tecnologia baseia-se na adição à planta em causa de um gene que não permite a produção de pólen viável. A utilização desta ferramenta permitiria então a não-propagação do pólen transgénico, evitando quaisquer cruzamentos com outras plantas. Esta acção das empresas de produção de transgénicos foi largamente condenada por ser vista como uma tentativa de evitar que os agricultores pudessem propagar as plantas por mais que um ano, obrigando-os a comprar novas sementes todas as temporadas.

Impacto na saúde humana/animal
Várias informações contraditórias têm sido lançadas de diversos setores quanto aos potenciais danos que os organismos transgénicos possam provocar nos seus consumidores.
• Em 1998, o investigador Árpád Pusztai e a sua equipe lançaram o pânico na Europa, ao afirmar que tinham obtido resultados que demonstravam o efeito nefasto de batata transgénica, quando presente na alimentação de ratos. Quando estes resultados foram publicados verificou-se que o referido efeito tinha sido devido ao transgene inserido nessas batatas ser de uma lectina, que por si só tem um efeito tóxico no desenvolvimento dos mamíferos. Estes investigadores sofreram pesadas críticas da classe política e da comunidade científica em geral. No entanto, ainda há alguma controvérsia quanto à interpretação dos resultados destes autores, opondo organizações não-governamentais a alguns cientistas.
• Outro caso de um estudo acerca do potencial efeito de transgénicos na saúde pública foi o de Séralini et al. (2007) . Estes investigadores reavaliaram estatisticamente dados publicados anteriormente pela multinacional Monsanto, e declararam que a alimentação de ratos com milho transgénico MON863 provocou toxicidade hepática e renal, bem como alterações no crescimento. A European Food Safety Authority (Autoridade Europeia para a Segurança Alimentar) aprovou o MON863 para consumo humano na União Europeia, baseando-se nas conclusões dos estudos entregues pela Monsanto. A Autoridade concluiu que as diferenças encontradas no estudo de Séralini não eram biologicamente relevantes e que os métodos estatísticos utilizados neste estudo eram incorrectos, pelo que não procedeu à reavaliação da aprovação. No entanto, até à data nenhum estudo científico foi publicado que tenha colocado em causa o estudo da equipa de Seraliny.
Esta discussão acentuou a polêmica sobre quem deve ser responsável pela avaliação do impacto deste tipo de produtos. O facto de algumas avaliações serem feitas pelas próprias empresas que os produzem tem levantado grande indignação por parte de organizações ambientalistas. O Painel OGM responsável pela avaliação dos transgénicos da European Food Safety Authority foi também criticado por vários Estados-Membros, casos da Itália e a Áustria, que acusam este painel de cientistas de parcialidade.
Alergenicidade
• Algumas das críticas que os transgénicos têm recebido têm a ver com a potencial reacção alérgica dos animais/humanos a estes alimentos. O caso mais conhecido foi a utilização de um gene de uma noz brasileira com vista ao melhoramento nutricional da soja para alimentação animal. A noz em causa era já conhecida como causadora de alergia em determinados indivíduos. O gene utilizado para modificação da soja tinha como função aumentar os níveis de metionina, um aminoácido essencial. Estudos realizados verificaram que a capacidade alergénica da noz tinha sido transmitida à soja, o que levou a que a empresa responsável terminasse o desenvolvimento desta variedade.
• Mais recentemente, investigadores portugueses do Instituto de Tecnologia Química e Biológica, do Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge, e do Instituto Superior de Agronomia, entre outros, testaram a resposta alérgica de diversos pacientes à alimentação com milho e soja transgénica. Este estudo não detectou qualquer diferença na reacção às plantas transgénicas, quando comparada com as plantas originais.

Fatores Sócio-economicos
• Grande parte das polêmicas originadas com a questão dos transgênicos estão diretamente relacionadas a seu efeito na economia mundial. Países atualmente bem estabelecidos economicamente e que tiveram sua economia baseada nos avanços da chamada genética clássica, são contra as inovações tecnológicas dos transgênicos. A Europa, por exemplo, possui uma agricultura familiar baseada em cultivares desenvolvidos durante séculos e que não tem condições de competir com países que além de possuir grandes extensões de terra, poderiam agora cultivar os transgênicos. Para além disso, localizam-se em espaço europeu muitas das empresas produtoras de herbicidas/pesticidas, que são naturalmente peças importantes na aceitação ou não de variedades agrícolas que possam comprometer os seus negócios.
• É também utilizado o argumento de que o cultivo de transgênicos poderia reduzir o problema da fome, visto que aumentaria a produtividade de variadas culturas, nomeadamente cereais. Porém, muitos estudos, inclusive o do ganhador do Prêmio Nobel de Economia, Amartya Sen, revelam que o problema da fome no mundo hoje não é ligado à escassez de alimentos ou à baixa produção, mas à injusta distribuição de alimentos em função da baixa renda das populações pobres. Dessa forma questiona-se a alegação de que a biotecnologia poderia provocar uma redução no problema da fome no mundo.
Utilização de compostos químicos
• Argumentos a favor dos transgênicos incluem a redução do uso de compostos como herbicidas, pesticidas, fungicidas e certos adubos, cuja acumulação pode causar sérios danos aos ecossistemas a eles expostos. As organizações ambientalistas questionam se os benefícios da utilização destas plantas poderia compensar os potenciais malefícios por elas causados, como foi atrás referido.
• Um exemplo interessante são as culturas baseadas na tecnologia Bt, resultante de um melhoramento por transgenia (incorporando genes da bactéria Bacillus thuringiensis) que confere à planta uma proteção natural a larvas de certos insetos, tornando praticamente desnecessário o controle destes por meio de pesticidas normalmente neurotóxicos, de alta agressividade ambiental, que em culturas não transgênicas são utilizados em larga escala. Tem sido posta em causa recentemente se esta tecnologia afetaria também insetos não-alvo, como abelhas e borboletas. No entanto, têm sido publicados alguns artigos científicos demonstrando que os insetos não-alvo são mais abundantes nos campos de plantas transgênicas do que nos campos convencionais sujeitos a pesticidas . Mas recentemente, um estudo de uma equipe de investigadores da Universidade de Indiana descobriu que o pólen e outras partes da planta de milho transgênico Bt são lixiviadas para os cursos de água perto de campos de milho até distâncias de 2 km, apresentando efeitos de toxicidade na mosca-da-água, que é um alimento importante para organismos superiores dos ecossistemas aquáticos, tais como os peixes e anfíbios.